ESCRAVOS DE JÓ
Em 1989 estréia o primeiro espetáculo para crianças da Turma do Dionísio: Escravos de Jó, texto de Carlos Carvalho. Mais uma fronteira que se abria...
Direção: Coletiva. Cenários e figurinos: Mário de Ballentti. Música, arranjos e gravação: Martins. Preparação vocal: Maristela Zancan. Programação visual: Augusto Bier.
Técnica: Flávio Moraes e Leandro Maia (Alessandro Maia)
Elenco: Jerson Fontana, Maristela Marasca e Paulo Menezes.
Aspectos Históricos:
A primeira montagem para crianças da Turma do Dionísio foi marcada por muitas preocupações e cuidados. Foi marcada especialmente por algumas dúvidas: como transpor para o palco uma linguagem teatral própria do universo infantil? Como compartilhar esse universo com o principal interessado – a criança? Como romper com a imagem do “teatrinho infantil” difundida por escolas e adultos?
Os primeiros passos foram dados, experimentando o teatro para crianças em pequenas encenações feitas a partir de roteiros e improvisações. Depois, alguns estudos e trocas de experiência com outros grupos. Finalmente, Escravos de Jó começa sua trajetória em agosto de 1989 com a proposta lançada: tratar a criança como um ser humano.
É o que aparece no Projeto Pedagógico, desenvolvido pelo Grupo para ser utilizado nas escolas: “Talvez seja muito difícil para os adultos compreenderem as coisas que fazem parte do mundo da criança. Antes de tudo, é preciso considera-lo como um mundo próprio: não menos importante que o ‘Mundo’, apenas diferente. Precisamos perceber e aceitar esse espaço a partir dos princípios da criança.” A tentativa era mostrar no palco os aspectos cotidianos da infância, a partir de uma linguagem específica: “um teatro no qual a criança não seja considerada um ser inferior, mas onde ela possa divertir-se e sentir-se a vontade” (Projeto Pedagógico da Peça Escravos de Jó – 1989).
As inquietações permanecem constantes na trajetória do Grupo, mas algumas indicações nos mostraram que deveríamos continuar pelo caminho escolhido. Uma destas indicações foi feita por Carmen Lenora C. Martins, professora de teatro infantil da UFRGS, que assistiu ao espetáculo no 3º Festival de Teatro, realizado em Ijuí. Ela declara em artigo publicado no Jornal das Missões (Santo Ângelo), em 03 de março de 1990: “A montagem desta peça mostrou o cuidado em respeitar a criança. Não se baseando no maniqueísmo, nos estereótipos, nas frases feitas do didatismo e da moralização tão presentes no teatro infantil.” Acrescenta ainda: “A equipe foi fiel aos elementos de ficção e do lúdico, ao mundo de fantasia e ao da imaginação, auxiliando para o desenvolvimento de uma personalidade integrada desta platéia em formação.”
Em roteiro de apresentações feitas em junho de 1991, na cidade de Santa Maria, novos indícios positivos: um grupo de criança coloca-se diante do veículo que transportava atores e cenário, decididos a impedir que o Grupo fosse embora da escola. Queriam exclusividade! Foi preciso muita conversa, muita explicação para convence-las de que a vida de um grupo de teatro é estar na estrada.
Ao ser apresentada no Festival Nacional de São José do Rio Preto – SP, a peça teve uma boa receptividade do público infantil, como atesta o depoimento de Roberto, de 9 anos, feito ao Jornal A Notícia, em 14 de julho de 1991: “Foi um espetáculo muito bom. Eu adorei as músicas e o sapatão.” Mateus, de 12 anos, afirmou após a apresentação: "A imaginação e criatividade são as nossas amigas.” Esta convicção do público resultou na eleição de “Escravos de Jó” como o melhor espetáculo do júri popular do festival.